quarta-feira, 30 de junho de 2010

Memories

Balançar minha cabeça não vai afastar nenhuma das lembranças terríveis que invadem minha mente. Eu odeio o modo como as lembranças vêm à tona quando escuto alguma música ou quando vejo algum filme que me lembram desses momentos difíceis de serem relembrados sem se entristecer. Por outro lado, é reconfortante saber que agora tudo está bem outra vez, que tudo ficou para trás, e que é impossível que tudo aconteça outra vez.
Então, eu tento fazer tudo da melhor maneira possível para não criar novas lembranças obscuras. Eu tento pensar bem a cada novo passo que dou. Me lembro de uma vez que quase fiz algo sem pensar nas consequências, simplesmente fazer por fazer. Felizmente alguém me parou antes de eu saltar. Bom, naquela época as consequências seriam desagradáveis para mim. Hoje nem tanto. Mas, essas consequências gravariam no tempo uma mais uma dessas lembranças. O que me lembra que preciso agradecer essa pessoa.
Eu sei que não há modo de não criar novas lembranças tristes, porque sem elas eu não me fortaleceria. E claro, não há modo de fugir de criar lembranças boas. Porém, essas lembranças valem a pena correr atrás.

Pensando em tudo isso, eu imaginei como seria se eu pudesse rever esses momentos. Os bons, e os ruins. Não reviver, apenas rever. Ver as lembranças mais tristes para ver que nem tudo era tão grave, e que estou bem agora. E sorrir revendo os bons momentos, pra me lembrar de valorizar-los, sendo pequenos ou grandes.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Loving you is a Cherry Pie"


Prometi nunca mais amar. A promessa se quebrou assim que ele apareceu. Naquele momento, meu coração começou a bater mais rápido, minha voz desapareceu como se alguém a tivesse roubado, e minha vida deixou de ser preta e branca. Quando o vi pela primeira vez tudo passou a ter cores. Ah, e como tudo era bem mais bonito daquele jeito!
Não demorei muito para achar alguma coragem, o que julgava impossível, e arriscar qualquer conversa. Me lembro que ele estava sentado tomando uma xícara de chá na minha cafeteria preferida. Por pura coincidência, eu estava usando meu vestido azul florido, a melhor peça de todo meu guarda roupa, o que me deixara um pouco mais confiante. Minha ideia era de derramar meu café em sua mesa, o único problema é que não sei fingir nem ao menos um acidente. Como se minhas pernas agissem por conta própria, andei até sua mesa e sentei na cadeira à sua frente. Ele fez todo o resto do trabalho por mim. Abriu um grande sorriso, e como se soubesse o que eu queria, começou a falar. Seu nome era Stephen. Não ouvi mais nada do que ele me dissera. Eu estava maravilhada demais. Quando ouvia um tom de dúvida em sua voz melodiosa, apenas acenava  um sim com a cabeça, e satisfeito, continuava a tagarelar alegremente. Meu sorriso se alargava a cada palavra que ele dizia. Depois de algum tempo, realizei o que ele estava dizendo. Stephen tinha 16 anos, tinha acabado de se mudar e iria começar a estudar em um colégio cujo o nome eu não me lembro. Percebi que ele era distraído, assim como eu. Quando terminei meu delicioso café extremamente forte, da mesma maneira que me sentei junto à Stephen, levantei e comecei minha caminhada de volta para casa.
E a partir daquele dia, um dos melhores de toda minha vida, nos encontrávamos todos os dias na mesma cafeteria, na mesma mesa, na mesma hora. A única diferença agora, era que eu também  revelava cada dia um pouco, meus segredos mais tocantes para ele. Stephen me contava tudo o que acontecia com o maior prazer, seus dias em sua nova escola, e em troca, eu fazia o mesmo contando os acontecimentos dos meus dias na minha escola velha e chata.
Quando ele não aparecia na cafeteria, eu mal me importava. Claro que eu estava apaixonada e sentia falta de sua voz. Por outro lado, ele tinha o direito de fazer outra coisa. Eu também não me dava o trabalho de colocar uma roupa apresentável, pentear meus cachos até ficar realmente satisfeita, todos os dias. Eu só me arrumava e saía de casa quando bem entendia.
Nossa amizade se baseava naquela cafeteria aconchegante. Nunca saíamos para outro lugar. E nossa amizade se baseava igualmente de conversas jogadas fora até conversas mais profundas. Nunca nos abraçamos, nunca nos tocamos. Eu não sentia necessidade, assim como ele. Isso me assustava um pouco, pois eu o amava realmente como nunca tinha amado qualquer outra pessoa. Toda noite me lembrava de seu sorriso tímido, de seus olhos brilhantes e de seus cachos, enquanto imaginava se ele também estaria fazendo a mesma coisa. Estou certa de que ele não o fazia  toda noite, nem do mesmo modo que eu. Eu o imaginava fazendo qualquer outra coisa, compondo músicas com seu violão, escrevendo seus pensamentos em algum pedaço de papel, lendo algum livro... Mas não pensando em mim. E de alguma forma, eu me sentia totalmente feliz mesmo sabendo que eu nunca invadira seus pensamentos. Me contentava com nossa amizade baseada em palavras. Me contentava em o encontrar quase todos os dias na minha cafeteria preferida. Não sei como, todos esses dias tínhamos assuntos para conversar. Quando minha caixa de assuntos possíveis se terminava, ele tirava algo de sua própria caixa, e assim por diante... Fico imaginando o que Stephen diria se soubesse que eu o amo, se ele soubesse como é delicioso, agradável, e saudável o amar. Afinal, era disso que ele reclamava a cada encontro. De não ter nenhum amigo para confiar, ninguém para o abraçar. Guardava para mim minhas respostas carinhosas. E percebo que esse era o único momento que ele não sorria, e eu também não. Como poderia sorrir o vendo dizer coisa parecida, na minha frente? Quase abria os meus braços e fazia sinal para ele se aproximar. E me abominava por essa ser a única coisa que eu não conseguia fazer. Quero dizer, quem melhor que eu para o abraçar nessas horas? E então me lembrava que eu era mais nova que ele. Me lembrava que ele devia me considerar como uma amiga 'reserva'. Uma amiga que ele tinha apenas para desabafar.
Até hoje me contento com essa amizade inocente. Sonho com o dia que Stephen se declarar para mim. Eu disse sonho. Pois sei que isso nunca irá acontecer, o que me entristece um bocado. Mas como acabei de dizer, me contento com nossa amizade. Assim já está bom.


Nota: Não imagino o motivo, mas adorei escrever esse texto. Todas as palavras saíram de uma forma assustadoramente normal. Espero que da mesma forma que adorei escrever esse texto, vocês adorem lê-lo.